domingo, 30 de dezembro de 2012

Inverno


 
Demora a Lua na sua volúpia
face ao Sol  que se distancia,
envergonhado,
ao solstício de uma noite...
É Dezembro reclamado!
Um passo em cada compasso,
desnuda-se Lua do seu manto
desfeito em neve que cai incerta
faz-se Rainha a olhares súbditos...
Braços despidos que nem galhos
se deita caduca coberta de branco,
desenha palavras em fumo,
expelido das bocas sem cor
cortadas na respiração
de um beijo bailado no vento
ao Sol que raia num amanhecer
e se deita plúmbeo ao entardecer...






segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Fantasia



Era estrela recortada
cintilando sorrisos
beijada no sonho
escuta flautas
um marulhar de contos
encantados
parábolas e lendas
e ela pintava
e recortava
florescia ternura
na sua teimosia
aos pés que descalça
a caminho de Oz
a sua fantasia 
real na sua voz...

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Nazaré


Sete saias
Sete cores
Sete doces
Sete sabores
degustados nas bocas do mundo.

Sete redes
Sete anzóis
Sete barcos
Sete sóis
que mergulham ao mar fundo

Sete ruas
Sete degraus
Sete mulheres
Sete carapaus
secos na rede pela mulher do pescador

Sete milagres
Sete histórias
Sete tragédias
Sete memórias
num Sítio que reza uma lenda sem dor

Sete dias
Sete beijos
Sete noites
Sete desejos
em sonhos embalados na brisa salgada
daquela praia de areia dourada...

domingo, 11 de novembro de 2012

Doce Abril




Do silêncio brotou o riso pendurado nos meus lábios,
que me acompanha desde o dia em que se acomodou no meu colo
e dele... desabrochou!
Foi naquele mês de Abril,
não chovia e todas as flores nasceram aos meus pés,
eram aos milhares e milhares eram as cores,
num ritual de celebração, enfeitaram o mundo e o perfumaram
para a grande chegada...
E o dia chegou,
aquele... em que os meus olhos se deitaram nela,
e a partir desse instante que vou colhendo todas as sementes que ela semeia
em inocentes gestos que guardo no meu coração, agora materno.
Os dias são rasgados no sorriso que Ela me oferece
e mergulhado em sonhos Azuis que ao cair da noite me deseja
num abraço... bem apertado,
lembrando na sua doce voz que escuto... Amo-te Mamã!

A Sereia

 
 
Encontro-me
nas profundezas
de um oceano
desconhecido
quimérico 
onde nado
sem braços
sem pernas
contra as correntes
utópicas
nos sentidos fantasiados
sou peixe colorido
e ela uma sereia
numa caça ao tesouro
esquivamos entre corais
ilusórios
Repousamos
em castelos de conchas
irreais
As corridas
são repetidas
onde ela a sereia
sorri vitoriosa
sempre...

E depois do banho
aconchego-a
nos meus braços
na toalha morna
que a embrulha
Abraços que
eternizo
E sinto os batimentos
do seu coração
tão doce
tão rebelde
que ao meu 
pertence...

O Magusto




Os passos apressam-se
mais que a gélida brisa de Outono
namorando o manto de folhas
adormecidas na sublime calçada
que desperta agora
ao aroma quente a castanhas assadas
entre a azáfama de uma multidão
consigo escutar o estalar
entre um crepitar nas brasas...
As mãos rudes de um homem
denunciam meio século de árduo trabalho
as quais revelam
num perfeito cone de papel
o delicioso fruto
vestido de cinzas
que degusto na saudade invicta
da cidade que foi o meu berço....

Outono



Elementar...
Como a inocente queda de uma folha ou o cheiro a terra molhada,
ornamentada em tons de  avelãs e cenouras,
é a boca gulosa que esconde o sabor das castanhas e romãs
humedecidas no sumo de uvas, fruto de alegres vindimas,
que banharam lábios pincelados em compota de figos
ou marmelada ainda quente, tão doce...
quanto a sua chegada...